...tinham sido namorados quando adolescentes, no tempo em que tudo era simples, em que as preocupações eram mínimas, em que se podia ser feliz sem ter de se pedir licença a ninguém…
Tiveram um namoro curto, porém longo o suficiente para Maria recordar aqueles anos, e a ele, como sendo o amor da sua vida.
Os anos passaram e ambos seguiram por caminhos diferentes, talvez num triste acaso do destino.
Maria arranjou novo namorado, um amigo por quem sentia algo especial. Com ele viveu uns anos loucos, correndo riscos e sentindo adrenalina, até que assentaram. E desta união nasceu uma filha.
Miguel passou igualmente pela experiência de casamento, não tendo no entanto corrido muito bem. Em compensação, viveu como homem livre que era.
O grupo de amigos em comum não tinha permitido que eles se afastassem por completo. Sempre tiveram contacto, e sempre sentiram uma certa empatia, a partilha daqueles momentos de um namoro que terminou sem se saber bem como nem porquê.
No ar tinham ficado sempre as incertezas. Se os beijos que davam eram assim tão intensos, se o tesão que sentiam era real ou fruto de imaginação causada pela falta daqueles momentos de maior intimidade que não tiveram oportunidade de experimentar.
Eram amigos e confidentes. Costumavam encontrar-se no café, depois do almoço ou ao final do dia, quando saíam do trabalho. Partilhavam alegrias e tristezas, conquistas e derrotas ou apenas um silêncio, mas sempre sobre a alçada daquela nuvem de erotismo.
Aos poucos e sem se aperceberem, foram construindo a relação que antes lhes foi impossível viver, apenas por meio de palavras, olhares e toques fortuitos.
A Miguel, pela liberdade de que gozava, era-lhe permitido sonhar alto. Planeava viagens e fins-de-semana românticos a dois, com a intenção de fugir dali com ela e sentir-lhe aqueles lábios para os quais olhava todos os dias e desejava beijar. De novo. Mais uma e outra vez, um beijo sem fim que não a deixasse, nunca mais, ir embora.
Maria, envolta no terror de cair nos braços da traição, no medo da descoberta, na mágoa que poderia causar, na filha que não queria perder, fugia dele. Tentava afastar-se, não pensar naqueles beijos, não pensar naquelas mãos nem naqueles olhos negros que a hipnotizavam.
Ela pensava nele cada vez mais. Sentia a paixão crescer e temia que já não conseguisse disfarçar.
As mensagens que ele lhe mandava deixavam-na em sobressalto, sentindo-se tal e qual uma adolescente apaixonada. Contava os minutos para aquele simples e inocente encontro no café. Que de inocente não tinha nada.
Enquanto ele falava das chatices do trabalho, ela controlava a respiração, sentia as faces ruborizarem, tentava desviar o pensamento da intenção de se escapar até à casa de banho com ele e deixar-se levar ali mesmo.
Ela queria. Queria tanto, que esse desejo já a consumava. Dia e noite.
O casamento não corria bem, e ela já não sabia se isso era bom ou mau. Em casa, as discussões eram amargas, e em Miguel procurava um refúgio. Ele era o seu porto de abrigo.
Maria sabia que estava a brincar com o fogo. E sentia-se a correr para a chama em vez de se afastar dela.
Naquela tarde soube que ia haver, em breve, um concerto jazz. Apaixonada por este tipo de música, e sabendo que ele também o era, apressou-se a ir comprar dois bilhetes, e foi deixá-los no escritório dele.
…
O concerto é dentro de dias, e Maria vive na dúvida sobre o que irá acontecer nessa noite, quando sair sozinha com ele.
Vamos ajudá-la a decidir?
17 comentários:
cada vez me supreendes mais!gosto dos teus contos!!tens muito jeio.força!!!!
A traição nunca se recomenda!
boneko, desta vez o conto é real ;)
esplanando, obrigada pela contribuição :)
Eu acho que se ela o deseja assim tanto, devia satisfazer essa vontade, porque pode ser uma ilusão que a está a consumir sem necessidade, as vezes idelisa-se uma situação e na pratica é uma autentica desilusão, com o dinheiro dos bilhetes devia ter alugado o quarto do motel, se foi bom e quizer repetir, divorcia se, se não foi o que esperava devia repensar na relação que tem com o marido se vale a apena ou não continuarem juntos.Isto é traição! Sim é! mas a desculpa que ela vai inventar para ir ao concerto é o quê? Na duvida é que não pode ficar
é bom saber!quantos nao há reais por contar?tens aqui um bom blogue!parabens!continua...
Bom... aconselhar alguém a trair é complicado.
A ideia do motel é perfeita para um f*** ou saí de cima!
Como ela vai fazer pa lá ir não sei, mas que vá!
Eu no lugar dela tratava era de ouvir outro tipo de musica...
;)
é o eterno dilema, e digam o que disserem acho que nunca se chegará a um concenso. a decisão depende de cada um... neste caso concreto, e dada a longa história que eles têm juntos, eu arriscava. eu naquela noite iria preparada para algo mais depois do concerto. sim, porque o corpo e a alma viriam completamente leves depois da música. iria finalmente provar os lábios que me atormentaram durante anos. e a noite seria só nossa e iria permanecer em segredo para sempre.
o dia seguinte é o dia seguinte... e há que estar preparada para as consequências, se as houver...
o problema não está nessa noite mas sim nas noites que vão querer repetir, depois dessa noite é conveniente tomar decisões
Uma coisa é trair porque de repente surge uma pessoa que nos arrebata e nos leva a agir de modo insconsciente. Diferente é tentar recuperar sensações que vivenciamos um dia e que(correndo o risco de vir a confirmar que afinal vivemos uma ilusão) sempre nos acompanharam.
É algo que sendo adiado nunca nos vai abandonar.
Maria
Maria, trair não é a melhor solução,mas siga seu coração, pois é melhor se arrepender do que se faz e não do que poderia se fazer.A felicidade tem seu preço e quem sabe se " Nem era amor aquilo tudo que se sentia" como já dizia o poeta Carlos Drummond e Andrade, porém é só arriscando que vai saber.
.VERTIGO.
Não devemos nunca, mas mesmo nunca deixar de fazer aquilo que mais queremos, não somos efémeros, mas quase, podemos errar, o mundo não é perfeito, nem nós, e depois....!!!!
O que nos dá alento é a paixão, e essa é muito importante mantê-la acesa, não a deixes apagar... vive o momento, tira todo o partido dele. E segue em frente.....
um xi :)
ps: Não penses nisso como traição, mas sim como algo sublime e unico
Só se trai quem lá está. O da Maria parece-me que há muito partiu, por isso... Que, caso venha a acontecer, se arrependa do que se passou e não do que poderia ter passado.
É sempre muito difícil decidirmos a traição. Mas, acho que ela já decidiu. Ao comprar os bilhetes para os dois está a dar uma oportunidade à sua vontade ....
Bjs
claro que ela já decidiu mas não foi só quando comprou os bilhetes....a maior traição é a actual situação dela, que se engana nesta situação...que trai todos os dias os seus próprios sentimentos ao manter um casamento que assim como está não sobreivi!
por isso vai em frente e só depois pensa no que fazer....compor tudo em casa passando por um processo de recomeço ou....largar casamento e perseguir a felicidade; no fim de contas é o que importa: seguir a felicidade!
O que eu acho vale o que vale, mas... sinceramente, acho que a Maria e o Miguel se devem papar...
A vida é feita de pequenos prazeres. É certo que há pequenos prazeres que devem ser mais "controlados", mas neste caso, hummmmmmmm, siga a marinha!
snows
Mangueirada na Patareca (ao som de Jazz)
Antes de mais, os meus parabéns pelo blog. Muito interessante (e é engraçado a maneira como cá vi parar... Do democraciaemportugal do Tiago para o naoentendoasmulheres do Bagaço, e do Bagaço para o Diabo...)
Adiante...
A Maria só vive na dúvida para se sentir melhor consigo própria, para não se ver como uma traidora, etc, etc.
Na verdade, ela já decidiu que vai haver molho, simplesmente ainda não está preparada para o admitir.
Quanto a ajudá-la a decidir... Eu sou contra traições. Nunca trairía alguém, e desprezo e detesto as pessoas que o fazem.
Não que seja antiquado, atenção. Aliás, sou mesmo o expoente da liberdade, de cada um fazer o que quiser. One night-stand? Sem problemas. Todos os dias molhar o bico com alguém diferente? À vontade. Mas NÃO trair. Desde que ambos os jogadores de uma relação (tanto relação amorosa "normal" como numa relação sexual) saibam as regras do jogo, tudo é válido. Se sabem que é só para uma noite, ninguém tem nada a dizer. Agora, se se comprometem a fazer algo e depois traem... Isso já é totalmente diferente, para mim. Traição é a pior coisa que alguém me pode fazer neste mundo (não venham cá dizer-me "Assassinarem-te não é pior?", pois eu posso ser assassinado devido a alguém que me traíu, por exemplo).
Dito isto, acho que a Maria deveria dar largas à sua vontade para com o Miguel. Viva a paixão. Mas SEM trair. Se já não ama o marido, simplesmente que lho diga, que acabe a relação com ele. Aliás, ela já não vai a lado nenhum.
Feito isso, é livre para fazer o que quiser, sem trair (e ainda tem o bónus de não sentir remorso).
Peço desculpa pelo testamento...
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