Uma noite

O clima era tenso.
Era estranho estar finalmente frente a frente com uma pessoa que despertava em mim uma série de sensações que nem eu própria conseguia entender.

As palavras foram poucas, mas a troca de olhares foi o suficiente para nos entendermos. Além do mais, dizer o quê? Já tudo tinha sido dito, debatido, discutido até ao âmago. E nenhuma dessas conversas tinha surtido efeito, ou não estariamos ali agora.

Deste-me um abraço e apertaste-me contra ti. Fechei os olhos e limitei-me a sentir-te, a respirar-te, a amar-te com a simplicidade única que só o amor merece. Senti o teu coração bater, tal como o meu estava, e fiquei tão nervosa que mal te conseguia olhar nos olhos.
Agarraste-me na mão e levaste-me.

Já naquela divisão semi-vazia, mas quente e acolhedora, fizeste os possíveis para me pôr à vontade. Ocupaste-te de acender umas velas que tinhas espalhado, e dirigiste-te ao leitor de cd's.
O meu olhar seguia-te. E tu sorriste.

Chegaste ao pé de mim com um lenço na mão, e disseste Confia em mim, enquanto com ele fazias uma faixa com a qual me irias vendar.
Deixei de te ver e de te sentir ao pé de mim, e agucei o meu ouvido para tentar perceber o que fazias.

A sala foi inundada por acordes, e à medida que ia tocando, reconheci-a.
Senti o teu braço envolver-me as costas e a puxar-me para ti, e instantaneamente o teu corpo colado no meu.
Com o joelho, afastavas as minhas pernas uma da outra e começaste a dançar, obrigando-me a acompanhar o teu ritmo.
Sentia vergonha por não saber dançar, e ri-me, mas tu insististe e sussurraste Deixa-te ir...

Entendi o porquê dos olhos vendados. Dessa forma nada mais me distraía, e podia concentrar-me nos teus movimentos. A dança fluiu em mim...
A tua cara estava junto da minha, e sentia a tua respiração ao pé da minha boca.
Tinha vontade de te beijar, de ser beijada, mas resisti.
E percebi que a nossa noite tinha começado nesse instante...