Tinham tido uma troca de palavras um pouco rudes, e ela sentia que lhe devia um pedido de desculpas. Abatida, dirigia-se a sua casa, sem saber muito bem o que iria dizer quando lá chegasse.
A porta do edifício estava aberta, e ela entrou. Tacteou a parede em busca do interruptor mas, ao invés do esperado, apenas a luz do átrio se acendeu.
A escuridão não a desmotivou e, em vez de subir pelo elevador, optou pelas escadas. Precisava de um pouco mais de tempo para reflectir e preparar o discurso.
Subiu o primeiro lanço, de forma vagarosa. Tinha de subir até ao 4º, e não queria lá chegar ofegante.
No 1º andar, por trás de uma porta, ouviu alguém rir, e logo na porta ao lado, um bebé chorava.
Subiu mais um pouco, e no 2º debateu-se por uns instantes para tentar decifrar um som que lhe parecia abafado.
Apercebeu-se dos gemidos que vinham do piso superior, e ficou atónita.
Voltou a carregar no interruptor da luz, numa tentativa de se denunciar, mas sem êxito. Pensou se haveria de descer, chamar o elevador ou fazer barulho, e enquanto não se decidia, ficou ali, estática, colada à parede e a fazer um esforço para controlar a respiração que começava a acelerar.
Ouvia-os. Uma voz feminina rasgava o silêncio com um sussurro
Já não aguentava mais.
Nem eu, disse a voz masculina imediatamente a seguir.
Ouvia o agitar dos corpos, as roupas, algo parecido com um som de sucção, beijos e gemidos.
Subiu mais um pouco, nervosa com a hipótese de alguém abrir uma porta e se deparar com ela à escuta ou, pior ainda, deparar-se com aquele casal que dava asas ao seu desejo, ali mesmo, na penumbra daquelas escadas.
No entanto o 2º andar parecia estar deserto, e se calhar o 3º também, não fosse a ousadia deles terem escolhido aquele local.
Com o coração aos pulos e excitada, subiu alguns degraus em silêncio. Ouvia-os melhor agora e quase que conseguia definir as suas sombras. Os murmúrios tornavam-se mais nítidos e constantes, e a respiração ofegante dela confundia-se com a deles.
Com os olhos já habituados à escuridão, conseguiu ver que a figura masculina estava sentada num degrau, e a feminina estava em cima dele, movendo-se efusivamente. Os corpos estavam colados um do outro e envoltos pelas pesadas roupas de Inverno.
Deleitou-se com aquele prazer fortuito, de ver e ouvir dois corpos em união carnal, e sentiu a sua vulva a pedir, também ela, por um momento de prazer. Tocou-se, e foi então que se concentrou em chegar ao 4º.
Propositadamente, fez barulho, na esperança que isso a denunciasse. Para espanto dela, eles continuaram, como se nada fosse.
Insistiu.
A reacção continuou a ser a mesma.
Subiu mais dois degraus, de forma ruidosa, e tudo permanecia igual. Eles gemiam despreocupados, e ela estava ainda mais excitada com a hipótese de eles saberem que estavam a ser observados e, mesmo assim, continuarem.
Respirou fundo e subiu os restantes degraus até ao patamar onde eles estavam. Atónita, mas não escandalizada, reparou que ele a fixava, enquanto a rapariga, que estava por cima e de frente para ele, se continuava a movimentar, fazendo prever os seus sexos que se esfregavam um no outro.
Receosa e excitada, continuou a subir as escadas, agarrando firmemente o corrimão. Passando ao lado deles, sentiu o coração aos pulos e a respiração muito ofegante.
Os olhos deles, seguiam-na.
Assim que os viu ficar para trás, sem se importarem com ela, deu uma corrida e só parou junto à porta dele, onde freneticamente tocou à campainha.
Quando ele abriu a porta, notou que ela estava nervosa. Os olhos dela fixavam-no e via que ela estava ofegante e com as faces ruborizadas. Esqueceu a discussão que tinham tido horas antes, e perguntou
Está tudo bem? Parece que viste um fantasma.
Sim… está tudo bem. Posso entrar?
Ele anuiu e afastou-se para a deixar entrar, fechando a porta atrás de si.
Então que se passa?
Estive a pensar na nossa discussão e vim aqui pedir desculpas. Já tinha um discurso mais ou menos preparado, mas…
Mas…
Mas ao subir as escadas vi uma coisa que me fez esquecer o que eu ia dizer.
Ele fixava-a, atento.
Por isso se não te importas, agora preciso desesperadamente que me fodas, e depois logo conversamos. Pode ser?